terça-feira, 9 de maio de 2017

Trabalho de Biologia - 2º Ano

Ciência e Ética: o legado de Darwin

Introdução 
  As descobertas científicas do último século sobre as relações entre indivíduos e espécies, especialmente o legado de Charles Darwin, parecem ainda não ter fecundado nossa moralidade cotidiana.
  As conclusões de Darwin permitem que estruturemos nossa noção do que é a vida com base na ideia de mutação. Este conhecimento, obviamente, não é uma descoberta darwiniana. São diversas as correntes de pensamento, algumas milenares, baseadas nas ideias de impermanência e interdependência. Mas a contribuição de Darwin vai além disto.
  Apesar destas duas características da natureza – impermanência e interdependência – serem facilmente observáveis, internalizá-las de modo a estruturarem nossos hábitos, nossos padrões de funcionamento mental, nossos túneis de realidade, incluindo aí nossa moralidade, gerando um distanciamento do egoísmo pautado unicamente pela auto-sobrevivência, parece não ser assim tão fácil, principalmente em um modelo de civilização arrogante como o nosso, cuja crença central é a de que toda a natureza é subserviente aos propósitos humanos e que podemos reorganizá-la e alterá-la ao nosso bel prazer, inclusive selecionando as espécies que “merecem” permanecer vivas.

Não somos o centro do universo
  Os modelos antropocêntricos e desenvolvimentistas majoritários no pensamento científico marcaram a interpretação comum do legado de Darwin:
  “Há duas maneiras nas quais a ideia de evolução tem sido mal utilizada. Uma é a maneira otimista que fala que tudo está ficando melhor e melhor, e nós devemos ir juntos com isto – esta evolução é uma espécie de escada que pode nos levar a qualquer lugar. Esta era a visão de Lamarck e Hubert Spencer. A ideia de que o crescimento – por exemplo, crescimento econômico – é natural e requerido – é uma ideia mítica. Isto não pode estar certo, porque as coisas não crescem indefinidamente; elas crescem até estarem grandes o suficiente. (…) Darwin nunca usou a palavra evolução (…). E as pessoas acham que isto é Darwinismo, e que isto é uma grande descoberta científica. O que isto é, é mito, e se alguém disser que é um mito de criação, eu suponho que seja, no sentido de que é uma das histórias que diferentes culturas possuem para explicar porque as coisas são como são dizendo como elas eram antes. A outra grande má compreensão é uma que diz que o universo é regido pela competição hostil entre os indivíduos. Isto também não é Darwin. (…) Esta é uma fantasia sobre como a vida foi feita, porque os organismos cooperam constantemente. Os pequenos pedaços em nossas células eram originalmente organismos separados, que começaram a trabalhar juntos. Se não houver um conjunto enorme de cooperações deste tipo, não se pode ter organismos de modo algum”. (1)
  Retirando do pensamento de Darwin a interpretação centrada na competição hostil e no obrigatório progresso, o que sobra?
  Darwin acoplou à antiga percepção da vida como eterna transformação a ideia de seleção natural. Com os posteriores avanços da Genética, chegou-se à proposição de que cada novo ser nascido recebe informações genéticas de seus “progenitores” (pais e mães em animais sexuados, mas também por outros meios, incluindo os meios vegetais). Neste percurso ocorrem mutações nos genes, gerando características que não existiam antes. Estas mutações podem significar algo bom ou algo ruim para o novo ser. Isto é, podem ajudar ou atrapalhar a adaptação deste ser às condições ambientais e modos de vida possíveis em seu tempo e lugar. Se uma mutação trouxer benefícios, provavelmente o animal/vegetal será bem sucedido em sua sobrevivência e reproduzirá mais que os outros. À medida que mais gerações de seres forem nascendo com esta nova característica, permitindo maior adaptabilidade ao ambiente e maior facilidade de sobrevivência, criando a possibilidade de maior tempo de vida e número de reproduções do que os que não a possuem, tal característica tenderá a ser o padrão em tal espécie. Muitas mutações ao longo do tempo acabam criando uma nova espécie (quando os membros desta não conseguirem mais se reproduzir com os membros da espécie antiga). Novas espécies também são geradas por mudanças geográficas, já que em cada lugar, dadas as especificidades ambientais, características diferentes são benéficas e seres diferentes acabam surgindo.
  Este conhecimento nos reposiciona no mundo: somos apenas uma das espécies que vêm surgindo e se transformando desde mais ou menos 3,7 bilhões de anos atrás, quando as primeiras bactérias parecem ter surgido. Compartilhamos ancestrais comuns com as demais espécies e com elas possuímos proximidade genética.
  O processo de surgimento, transformação e extinção de espécies é, portanto, altamente complexo. Mais de 99% das espécies que já passaram pela Terra já foram extintas (2), e isso não se deve ao comportamento destrutivo humano (ainda que este tenha acelerado o processo nas últimas décadas). São bilhões de anos de surgimento e desaparecimento de espécies devido às incontáveis relações entre espécies e entre as espécies e os ambientes.
  Entender que a vida é algo que se recria a cada momento de forma interdependente, onde todas as espécies são partes igualmente importantes, nos leva a alterar valores (3): o ser humano não é o centro do universo. Não somos a espécie mais importante da Terra. As outras espécies não foram criadas para nosso uso. Convivemos no mesmo momento da história da vida que todos os outros seres vivos atualmente existentes.
  Somos todos parte de uma rede inacreditavelmente imensa de seres vivos que cumprem seus papéis nesse estupendo conjunto de relações que é a vida. Nenhum ser é independente ou mais importante que outro.
  Esta compreensão deveria fazer desabar o edifício antropocêntrico e especista de nossas ciências e moralidades, mas parcela considerável da humanidade continua crendo que quem não possui o tipo de razão, linguagem e pensamento abstrato que possuímos não merece o mesmo respeito que nós gostamos de merecer.
  Nós mesmos não somos apenas nós mesmos. “Cada um de nós é uma grande cidade de células, e cada célula, uma cidade de bactérias. Somos uma grande megalópole de bactérias” (4). Sem estas bactérias o organismo humano seria impossível. O que justifica nossa arrogância?

Ciência e Ética  

  Quanto mais conheço sobre a história da vida no planeta, mais profundo fica meu respeito. É difícil para nós pensar na escala de tempo desta história. Bilhões de anos! Nossa mente não está adaptada para pensar nesta proporção. Pensar quantas espécies surgiram e desapareceram, quantas extinções em massa já houveram, quantas explosões de vida já ocorreram, quantas vezes a vida saiu e voltou totalmente para as águas. É difícil perceber o quanto pequena é nossa participação nesta história (ainda que nosso poder destrutivo e criativo não seja nada pequeno), mas é preciso.
  Para arquitetarmos nossos juízos éticos é importante ter em alta conta as incontáveis relações entre todos os seres vivos. Pensar que as mitocôndrias de nossas células já foram bactérias independentes (e até hoje possuem seus próprios DNAs, diferentes dos nossos). Pensar em todas as relações entre bactérias e vegetais, como as do gênero Rhizobium, que permitem que as raízes das plantas absorvam nitrogênio da atmosfera e existam. Enfim, contemplar os incríveis e gigantescos processos de adaptações e relações, do nível dos genes ao dos ecossistemas. Conjuntos e mais conjuntos de relações.
  Se esta magnanimidade não nos criar um profundo senso de respeito, não sei o que poderia criar.
  Este maravilhamento, que parece ser o ponto de partida tanto das ciências quanto das religiões, e esta noção – ainda que limitada – sobre tudo o que já ocorreu e continua ocorrendo para que a vida exista deveria estar no fundamento de nossa moralidade no que se refere ao modo de nos relacionar com o mundo no qual fazemos parte, com nossa natureza.
  O objetivo maior das ciências, portanto, deveria ser aumentar nossa consciência sobre o mundo para vivermos vidas pautadas em princípios mais nobres, dignos e respeitosos, e não o “conhecer para dominar”, tão típico destas áreas do pensamento humano.
  Conhecer melhor a alteridade nos ajuda a sabermos como agir em relação a ela. Assim, no fundamento do processo de conhecimento há um profundo questionamento ético, e é mais do que urgente que fundamentemos e vivamos nossa dimensão ecológica de modo eticamente aceitável. Está aí o desafio para que nossas ciências percebam o papel nefasto que têm cumprido nos últimos séculos e religuem-se ao nobre papel do conhecimento na geração de sabedoria. Que nossas ciências possam sair das trevas da ignorância.

Notas
(1) Traduzido pelo autor de entrevista disponível em
http://www.sheilaheti.net/midgley.html.
(2) DAWKINS, Richard: Desvendando o Arco-Íris: ciência, ilusão e encantamento. São Paulo, Companhia das Letras, 2000, p. 107.
(3) Assim como a Astronomia, a Geologia e todos estes conhecimentos sobre como o Universo, a Terra e a Vida vieram a ser como são, que nos permitem nos comparar, nos repensar e nos colocar em nosso devido lugar no universo (o que não é sinônimo de nos considerarmos sem valor).
(4) DAWKINS, Richard: Desvendando o Arco-Íris: ciência, ilusão e encantamento. São Paulo, Companhia das Letras, 2000, p. 27.

(Texto adaptado pela professora. Publicado em 08 de dezembro de 2012. Disponível em: http://www.anda.jor.br/08/12/2012/ciencia-e-etica-darwin)


Após ler o texto, responda as questões:
1) Qual a ideia principal do texto? Explique com suas palavras.
2) Explique a afirmação: “Não somos o centro do universo”.
3) O que você sabe da teoria da Seleção Natural de Darwin?
4) Como pode ser comprovada a teoria de Darwin? Justifique sua resposta.
5) Que outras teorias evolutivas existem? Fale resumidamente sobre eles e dê sua opinião.




Data de entrega: 23/05/2017.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Trabalho de Biologia - 3º Ano

Quando a vida começa?
Aborto é assassinato? Pesquisar células-tronco é brincar com pequenos seres humanos? Manipular embriões é crime? 

  “Vida” é uma daquelas poucas palavras capazes de provocar unanimidade que ninguém é capaz sequer de explicar. Por mais de 2 mil anos, essa indefinição foi motivo de inquietação só para poucos filósofos. Hoje, porém, a ciência mexe fundo neste conceito. Expressões como “proveta” e “manipulação genética” estão cada vez mais presentes no cotidiano. E a pergunta sobre o que é vida, e quando ela começa, virou uma polêmica que vai guiar boa parte da sociedade em que vamos viver. A resposta sobre a origem de um indivíduo será decisiva para determinar se aborto é crime ou não. E se é ético manipular embriões humanos em busca da cura para doenças como o mal de Alzheimer e deficiências físicas.
  “Ter embriões estocados em laboratório é um evento tão novo e diferente para a humanidade que ainda não tivemos tempo de amadurecer essa ideia”, diz José Roberto Goldim, professor de bioética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Biologicamente, é inegável que a formação de um novo ser, com um novo código genético, começa no momento da união do óvulo com o espermatozoide. Mas há pelo menos 19 formas médicas para decidir quando reconhecer esse embrião como uma pessoa”.
  Vida é quando acontece a fecundação? Isso significa dizer que cerca de metade dos seres humanos morre nos primeiros dias, já que é muito comum o embrião não conseguir se fixar na parede do útero, sendo expelido naturalmente pelo corpo. Vida é o oposto de morte – e então ela se inicia quando começam as atividades cerebrais, por volta do 2º mês de gestação? Vida é um coração batendo, um feto com formas humanas, um bebê dando os primeiros gritos na sala de parto? Ou ela começa apenas quando a criança se reconhece como indivíduo, lá pelos 2 anos de idade? Para a Igreja, vida é o encontro de um óvulo e um espermatozoide e, portanto, não há qualquer diferença entre um zigoto de 3 dias, um feto de 9 meses e um homem de 90 anos. Mas então por que não existem velórios com coroas de flores, orações e pessoas de luto para embriões que morrem nos primeiros dias de gravidez? Essa é uma discussão cheia de contradições e respostas diferentes. Um debate em que a medicina fica mais perto de ser uma ciência humana do que biológica e em que frequentemente se encontram cientistas usando argumentos religiosos e religiosos se valendo de argumentos científicos. Por isso, o melhor a fazer é começar pela história de como a ideia de vida apareceu entre nós.

A história da vida
  Saber onde começa a vida é uma pergunta antiga que despertou o interesse, por exemplo, do grego Platão, um dos pais da filosofia. Em seu livro República, Platão defendeu a interrupção da gestação em todas as mulheres que engravidassem após os 40 anos. Por trás da afirmação estava a ideia de que casais deveriam gerar filhos para o Estado durante um determinado período. Mas quando a mulher chegasse a idade avançada, essa função cessava e a indicação era clara: o aborto. Para Platão, não havia problema ético algum nesse ato. Ele acreditava que a alma entrava no corpo apenas no momento do nascimento.
  As ideias do filósofo grego repercutiram durante séculos. Estavam por trás de alguns conceitos que nortearam a ciência na Roma antiga, onde a interrupção da gravidez era considerada legal e moralmente aceitável. A tolerância ao aborto não queria dizer que as sociedades clássicas estavam livres de polêmicas semelhantes às que enfrentamos hoje. Contemporâneo e pupilo de Platão, Aristóteles afirmava que o feto tinha, sim, vida. E estabelecia até a data do início: o primeiro movimento no útero materno. No feto do sexo masculino, essa manifestação aconteceria no 40º dia de gestação. No feminino, apenas no 90º dia – Aristóteles acreditava que as mulheres eram física e intelectualmente inferiores aos homens e, por isso, se desenvolviam mais lentamente. Como naquela época não era possível determinar o sexo do feto, o pensamento aristotélico defendia que o aborto deveria ser permitido apenas até o 40º dia da gestação.
  A teoria de Aristóteles sobreviveu cristianismo adentro. Foi encampada por teólogos fundamentais do catolicismo, como São Tomás de Aquino e Santo Agostinho, e acabou alçada a tese oficial da Igreja para o surgimento da vida. E assim foi por um bom tempo.
  Para responder à pergunta que até hoje perturba: quando começa a vida? o papa Pio 9º decidiu que o correto seria não correr riscos e proteger o ser humano a partir da hipótese mais precoce, ou seja, a da concepção na união do óvulo com o espermatozoide. A opinião atual do Vaticano sobre o aborto, no entanto, só seria consolidada com a decisão dos teólogos de que o primeiro instante de vida ocorre no momento da concepção, e que, portanto, o zigoto deveria ser considerado um ser humano independente de seus pais.
  O catolicismo é das únicas grandes religiões do planeta a afirmar que a vida começa no momento da fecundação e a equiparar qualquer aborto ao homicídio. O judaísmo e o budismo, por exemplo, admitem a interrupção da gravidez em casos como o de risco de vida para a mãe. Isso mostra que a ideia de vida e a importância que damos a ela varia de acordo com culturas e épocas. Até séculos atrás, eram apenas as crenças religiosas e hábitos culturais que davam as respostas a esse debate cheio de possibilidades. Hoje, a ciência tem muito mais a dizer sobre o início da vida.

A ciência explica  

  O astrônomo Galileu Galilei (1554-1642) passou a vida fugindo da Igreja por causa de seus estudos de Astronomia. Ironicamente, sem uma de suas invenções – o telescópio, fundamental para a criação do microscópio –, a Igreja não teria como fundamentar a tese de que a vida começa já na união do óvulo com o espermatozoide. Foi somente no século 17, após a invenção do aparelho, que os cientistas começaram a entender melhor o segredo da vida. Por volta de 1870, os pesquisadores comprovaram que aqueles espermatozoides corriam até o óvulo, o fecundavam e, 9 meses depois, você sabe. Foi uma descoberta revolucionária. Fez os cientistas e religiosos da época deduzir que a vida começa com a criação de um indivíduo geneticamente único, ou seja, no momento da fertilização. É quando os genes originários de duas fontes se combinam para formar um indivíduo único com um conjunto diferente de genes.
  Que bom se fosse tão simples assim. Hoje sabemos que não existe um momento único em que acontece a fecundação. O encontro do óvulo com o espermatozoide não é instantâneo. Em um primeiro momento, o espermatozoide penetra no óvulo, deixando sua cauda para fora. Horas depois, o espermatozoide já está dentro do óvulo, mas os dois ainda são coisas distintas. “Atualmente, os pesquisadores preferem enxergar a fertilização como um processo que ocorre em um período de 12 a 24 horas”, afirma o biólogo americano Scott Gilbert. Além disso, são necessárias outras 24 horas para que os cromossomos contidos no espermatozoide se encontrem com os cromossomos do óvulo.
  Quando a fecundação termina, temos um novo ser, certo? Também não é bem assim. A teoria da fecundação como início de vida sofre um abalo quando se leva em consideração que o embrião pode dar origem a dois ou mais embriões até 14 ou 15 dias após a fertilização. Como uma pessoa pode surgir na fecundação se depois ela se transforma em 2 ou 3 indivíduos? E tem mais complicação. É bem provável que o embrião nunca passe de um amontoado de células. Depois de fecundado numa das trompas, ele precisa percorrer um longo caminho até se fixar na parede do útero. Estima-se que mais de 50% dos óvulos fertilizados não tenham sucesso nessa missão e sejam abortados espontaneamente, expelidos com a menstruação.
  Além dessa visão conhecida como “genética”, há pelo menos outras 4 grandes correntes científicas que apontam uma linha divisória para o início da vida. Uma delas estabelece que a vida humana se origina na gastrulação – estágio que ocorre no início da 3ª semana de gravidez, depois que o embrião, formado por 3 camadas distintas de células, chega ao útero da mãe. Nesse ponto, o embrião, que é menor que uma cabeça de alfinete, é um indivíduo único que não pode mais dar origem a duas ou mais pessoas. Ou seja, a partir desse momento, ele seria um ser humano. Com base nessa visão, muitos médicos e ativistas defendem o uso da pílula do dia seguinte, medicação que dificulta o encontro do espermatozoide com o óvulo ou, caso a fecundação tenha ocorrido, provoca descamações no útero que impedem a fixação do zigoto. Para os que brigam pelo o direito do embrião à vida, a pílula do dia seguinte equivale a uma arma carregada.
  Para complicar ainda mais, há uma terceira corrente científica defendendo que para saber o que é vida, basta entender o que é morte. E países como o Brasil e os EUA definem a morte como a ausência de ondas cerebrais. A vida começaria, portanto, com o aparecimento dos primeiros sinais de atividade cerebral. A primeira hipótese diz que já na 8ª semana de gravidez o embrião possui versões primitivas de todos os sistemas de órgãos básicos do corpo humano, incluindo o sistema nervoso. Na 5ª semana, os primeiros neurônios começam a aparecer; na 6ª semana, as primeiras sinapses podem ser reconhecidas; e com 7,5 semanas o embrião apresenta os primeiros reflexos em resposta a estímulos. Assim, na 8ª semana, o feto – que já tem as feições faciais mais ou menos definidas, com mãos, pés e dedinhos – tem um circuito básico de 3 neurônios, a base de um sistema nervoso necessário para o pensamento racional. A segunda hipótese aponta para a 20ª semana, quando a mulher consegue sentir os primeiros movimentos do feto, capaz de se sentar de pernas cruzadas, chutar, dar cotoveladas e até fazer caretas. É nessa fase que o tálamo, a central de distribuição de sinais sensoriais dentro do cérebro, está pronto. Se a menor dessas previsões, a de 8 semanas, for a correta, mais da metade dos abortos feitos nos EUA não interrompem vidas.
  Apesar da discordância em relação ao momento exato do início da vida humana, os defensores da visão neurológica querem dizer a mesma coisa: somente quando as primeiras conexões neurais são estabelecidas no córtex cerebral do feto ele se torna um ser humano. Depois, a formação dessas vias neurais resultará na aquisição da “humanidade”.

A cura dentro de nós  
  Desde a década de 1980, o estudo das células-tronco vem dando esperança a quem antes pensava que nunca voltaria a andar. Mas o futuro dessas pesquisas também está ligado à polêmica sobre onde começa a vida humana.
  Do mesmo modo que as primeiras células que formam o embrião humano, as células-tronco são como curingas: ainda não foram diferenciadas para formar os tecidos que compõem o organismo. Podem se transformar em células ósseas, renais, neurônios, dependendo da necessidade e do poder de regeneração de cada órgão. Mesmo depois do nascimento, o corpo conserva essas células, sobretudo no cordão umbilical e na medula óssea. Injetando ou incentivando a migração de células-tronco adultas da medula para o coração, por exemplo, os cientistas estão conseguindo fazer o principal órgão humano se regenerar. Em pouco mais de um mês, pacientes com insuficiência cardíaca provocada por infartos ganham vida nova. A ideia é que a técnica das células-tronco, eleita pela revista Science como a mais importante pesquisa biológica do milênio, possa curar problemas renais, hepáticos, lesões da medula espinhal, mal de Alzheimer e até possibilitem a criação de órgãos em laboratório.
  Até aí, nenhum conflito ético. Em 1998, porém, descobriu-se que as células-tronco mais potentes, capazes de se transformar em qualquer um dos 216 tecidos humanos e se replicar com grande velocidade, são as resultantes da fecundação do óvulo com o espermatozoide. Os cientistas utilizam embriões com 3 a 4 dias de desenvolvimento (e entre 16 e 32 células), que sobram do processo de fertilização in vitro em clínicas especializadas. No laboratório, as células-tronco são retiradas num processo que provoca a destruição do embrião. Mas, se a vida começa na fecundação, os cientistas estariam lidando, em seus tubos de ensaio, com seres humanos vivos. O mesmo problema ético acontece com a inseminação artificial, que cria diversos embriões em laboratório e depois os descarta ou os congela.
  Um embrião, apesar de ser um amontoado de meia dúzia de células, carrega toda a informação genética necessária para a formação de um indivíduo. Nos seus 23 cromossomos paternos e 23 maternos, estão os 30 mil genes que determinarão os traços, a cor dos olhos, da pele, do cabelo, etc. Pensando nisso, países como a França chegaram a proibir pesquisas com células-tronco embrionárias. Hoje, os franceses permitem esses estudos, assim como a maioria dos outros países europeus e do Brasil. Desde março de 2005, a Lei de Biossegurança permite o uso de embriões descartados por clínicas de fertilização e congelados há pelo menos 3 anos – o prazo foi definido para evitar a produção de embriões exclusivamente para estudos. Há no país 20 mil embriões em condições de pesquisa dentro da lei.
  E o governo brasileiro, proíbe o aborto mas permite a manipulação de embriões humanos vivos? Depende do que você considera humanos vivos. “A vida começou há milhões de anos e cada um de nós é fruto contínuo daquele processo. A pergunta pertinente não é quando começa a vida, mas quando começa uma vida relevante do ponto de vista ético. Um embrião num tubo de ensaio é apenas uma possibilidade de vida, assim como eu sou um morto em potencial, mas ainda não estou morto.” Como logo após a fertilização o zigoto tem grande probabilidade de não se tornar uma gravidez e ainda pode se dividir, alguns cientistas preferem chamar o embrião que ainda não se fixou no útero de “pré-embrião”. “A ética considera relações entre seres, entre um ‘eu’ e um ‘tu’. É difícil considerar um embrião um ‘tu’. Já quando ele começa a estabelecer uma relação com a mãe, a interrupção do processo passa a ser mais problemática do ponto de vista moral”, diz Fermin Roland Schramm, presidente da Sociedade de Bioética do Estado do Rio de Janeiro (Sbrio).
  Outro ponto a favor dos que estão mexendo com os embriões é que novidades da ciência sempre assustaram. Foi assim com a fertilização artificial, com o transplante de coração e até com a transfusão de sangue. Hoje, esses avanços são essenciais para a saúde pública. “A única certeza que temos em relação às células-tronco adultas, encontradas no cordão umbilical, é que elas podem se diferenciar em células sanguíneas”, afirma a geneticista Mayana Zatz, do Instituto de Biociências da USP, considerada a principal voz da classe científica na aprovação do dispositivo da Lei de Biossegurança que trata da pesquisa com células-tronco embrionárias. “Nunca vamos descobrir o potencial das células-tronco embrionárias se não pudermos estudá-las”.
  Polêmicas à parte, às células-tronco embrionárias mostram que a solução para os males que perturbam o ser humano pode estar em nós mesmos. Ao contrário da discussão sobre o aborto, a polêmica das células-tronco surgiu com o esforço de fazer aleijados levantar e andar, doentes renais ganhar órgãos novos, cardíacos ter o coração reforçado. É um jeito de usar a essência da vida para encarar o maior inimigo da ciência: a morte, que também está no grupo das palavras que provocam unaniminade. É impossível gostar dela. O problema é que também não sabemos exatamente o que é morte. É quando o coração pára? Quando o cérebro deixa de funcionar? 

(Texto adaptado pela professora. Publicado em 31 out 2005, atualizado em 1 dez 2016. Disponível em: http://super.abril.com.br/ciencia/vida-o-primeiro-instante/)


Após ler o texto, responda as questões:

1) Qual a ideia principal do texto? Explique com suas palavras.
2) Por que é difícil definir vida?
3) Em sua opinião o que é vida? Quando ela começa e termina? 
4) Como a Ciência contribuiu para explicar sobre a vida? Justifique sua resposta.
5) Qual sua opinião sobre o uso das células-tronco embrionárias?


Data de entrega: 23/05/2017.