terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

QR Codes sobre Meio Ambiente


MEIO AMBIENTE E TECNOLOGIAS: O USO DE QR CODES EM AULAS DE CIÊNCIAS

Resumo: O presente trabalho apresenta o material didático elaborado a partir da temática meio ambiente utilizando-se das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), especialmente do uso de QR Codes, para desenvolver atividades didáticas em aulas de Ciências em uma escola pública de ensino fundamental do município de Dom Pedrito/RS. O objetivo do trabalho é significar as experiências vivenciadas em sala de aula, a partir da realidade escolar atual utilizando-se de espaços escolares como salas de informática e multimídia e do uso de celulares, câmeras digitais e outros aparelhos tecnológicos. O planejamento das ações visou propor o material didático a partir da utilização de QR Codes e de vídeos produzidos pelos estudantes, contribuindo para a construção do conhecimento escolar sobre o meio ambiente.
Palavras-chave: Meio ambiente; Tecnologias; Material didático.

Introdução
            Este trabalho trata do desenvolvimento de material didático a partir da temática ambiental, geralmente abordada através de conteúdos fragmentados nas escolas e relacionados à Ecologia e que, muitas vezes, não possuem significação para os estudantes. Desse modo, no Rio Grande do Sul é significativo conhecer o bioma pampa, sua flora e fauna características. Portanto, o objetivo deste trabalho é significar as experiências vivenciadas em sala de aula, a partir da realidade escolar atual na qual a escola dispõe de salas de informática e multimídia e os estudantes se utilizam de celulares, câmeras digitais e outros aparelhos tecnológicos a todo instante. Combinando à grande curiosidade dos estudantes e a sua capacidade de utilizar as TICs, se propôs as atividades sobre o meio ambiente através do uso delas para contribuir no processo de ensino e de aprendizagem.
De acordo com a ideia de que a educação ambiental vai além de conceitos teóricos sobre o meio ambiente e a preservação da natureza, é oportuno tornar os estudantes sujeitos conscientes e capazes de entender a complexidade do mundo que os cerca.
Essa ideia fica elucidada na citação de LINDNER (2012, p. 15):
O sistema educacional deve buscar ações e estratégias para que as pessoas entendam as relações atuais de produção e consumo, bem como as futuras implicações, decorrentes da continuidade da utilização dos recursos naturais até a exaustão, que causariam irreversíveis problemas na manutenção da vida em nosso planeta.

O uso das TICs corrobora para que a educação ambiental seja abordada de forma diferente na escola. Utilizando-se das TICs os estudantes são estimulados a fazer uma reflexão crítica que favoreça, na prática, a busca da conscientização e da formação de cidadãos comprometidos com as questões ambientais da atualidade.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs):
A necessidade de que a educação trabalhe a formação ética dos alunos está cada vez mais evidente. A escola deve assumir-se como um espaço de vivência e de discussão dos referenciais éticos, não uma instância normativa e normatizadora, mas um local social privilegiado de construção dos significados éticos necessários e constitutivos de toda e qualquer ação de cidadania... (PCNs, 1998, p.16)

Os PCNs abordam a temática ambiental contextualizada com a educação e questão ambiental possibilitando aos estudantes novas formas de pensar e agir, buscando “novos caminhos e modelos de produção de bens, para suprir necessidades humanas, e relações sociais que não perpetuem tantas desigualdades e exclusão social, e, ao mesmo tempo, que garantam a sustentabilidade ecológica” (PCNs, 1998, p. 180).  
Assim, de acordo com os PCNs
fica evidente a importância de educar os brasileiros para que ajam de modo responsável e com sensibilidade, conservando o ambiente saudável no presente e para o futuro; saibam exigir e respeitar os direitos próprios e os de toda a comunidade, tanto local como internacional; e se modifiquem tanto interiormente, como pessoas, quanto nas suas relações com o ambiente. (PCNs, 1998, p. 181)

Consequentemente, a partir das ideais propostas nos PCNs surgiram algumas perguntas que nortearam a elaboração do trabalho: (1) como orientar possíveis ações na escola que proporcionem o uso das TICs para conscientizar os estudantes da importância da preservação ambiental? (2) como verificar se o uso das TICs influencia no processo de ensino e de aprendizagem e na vivência dos estudantes sobre a temática ambiental? (3) como utilizar as TICs para abordar o tema meio ambiente e proporcionar uma participação efetiva dos estudantes?
A partir das questões levantadas sobre o tema meio ambiente elaborou-se o material didático utilizando-se dos vídeos produzidos pelos estudantes e do emprego dos QR Codes. Logo, para elucidar os questionamentos levantados, a partir da vivência sobre meio ambiente e TICs na atividade desenvolvida e na prática docente na escola, espera-se apresentar uma possibilidade do uso das TICs no processo ensino e de aprendizagem nas aulas de Ciências do ensino fundamental.
Nessa perspectiva, LEFF (2002) salienta que o saber ambiental não se constitui em um saber homogêneo, sendo um saber estabelecido na relação com o objeto e o campo temático das diversas áreas de conhecimento; definindo-se então uma temática ambiental em cada da área ciência, abrindo espaço para a interdisciplinaridade e a formulação de novas teorias, disciplinas e técnicas.
Desenvolvimento das atividades
As atividades aqui relatadas foram desenvolvidas no primeiro semestre de 2018, na escola estadual de ensino fundamental Professora Heloisa Louzada, no município de Dom Pedrito/RS, através da participação dos alunos do 9º ano nas aulas de Ciências.
A temática ambiental surgiu a partir da necessidade de relacionar o tema meio ambiente e as TICs, visto que a escola dispõe de um laboratório de informática para ser utilizado pelos alunos e que os mesmos têm acesso a uma infinidade de aparelhos tecnológicos.
A proposta foi embasada na necessidade de se rever a conduta dos estudantes em relação ao meio ambiente. Isso fica respaldado nos PCNs:
A principal função do trabalho com o tema meio ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e atuar na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso é necessário que, mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e aprendizagem de procedimentos. E esse é um grande desafio para a educação. (PCNs, 1998, p. 187)

A primeira atividade realizada nas aulas de Ciências, relacionada ao meio ambiente e usando das TICs, refere-se à construção de vídeos pelos alunos utilizando programas como o Movie Maker. Nessa atividade, inicialmente foram apresentados dois vídeos sobre Educação Ambiental: Desenvolvimento Sustentável – Vídeo de Educação Ambiental[2] e Animação – Homem Capitalista[3]. Após, lançaram-se questões sobre a importância da preservação do meio ambiente. A partir dos questionamentos levantados, os alunos expuseram suas ideias. Posteriormente, foi lançado o desafio para que os estudantes montassem um pequeno vídeo sobre o tema. Para isso, eles podiam usar filmagens e fotos próprias ou imagens da internet. O vídeo deveria conter título, imagens, frases de conscientização e a identificação dos estudantes.
Os vídeos foram pensados para acompanhar as percepções dos estudantes sobre a temática meio ambiente, nos quais os estudantes poderiam expressar suas ideias e sua criatividade, pelo caráter pedagógico que as mídias podem ter. De acordo com Resende (2008, p. 1 apud SILVA et.al., 2012, p. 189), os recursos audiovisuais utilizados como ferramenta didática vêm sendo incorporados ao ensino de Ciências e gerando pesquisas e publicações sobre a produção de filmes e vídeos sobre temas científicos. Assim, “a prática do uso do vídeo como recurso pedagógico traz a possibilidade de utilizar não somente palavras, mas também imagens” (Marcelino-Jr. et al., 2004 apud SILVA et.al., 2012, p. 192), pois,
o vídeo traz uma forma multilinguística de superposição de códigos e significações, predominantemente audiovisuais, apoiada no discurso verbal-escrito, partindo do concreto, do visível, do imediato. A linguagem audiovisual desenvolve múltiplas atitudes perceptivas, pois solicita constantemente a imaginação. (SILVA et.al., 2012, p. 192)

Na elaboração dos vídeos participaram 37 alunos do 9º ano e foram produzidos 16 vídeos que tratam da natureza, da preservação do meio ambiente e de prejuízos causados pela falta de conscientização da população. Os vídeos foram produzidos pelos estudantes em grupos de até 4 componentes e tiveram duração máxima de 5 minutos. Os vídeos feitos pelos estudantes foram hospedados no YouTube e transformados em QR Codes e podem ser acessados utilizando-se um leitor específico para esses códigos.
O exemplo a seguir é o resultado de um dos QR Codes produzidos e utilizados como material didático a partir da temática ambiental:

Figura 1 QR Code sobre Meio Ambiente.
Fonte: Acervo pessoal.
Posteriormente, os QR Codes – com a finalidade de serem acessados por qualquer pessoa que tenha acesso a esses códigos – foram expostos no saguão da escola para serem lidos pela comunidade escolar durante a semana de aniversário da escola que ocorreu no mês de junho.
Os relatos aqui apresentados contam com um registro fotográfico sobre as atividades desenvolvidas, bem como são apresentados a seguir os links de alguns dos vídeos produzidos: youtu.be/ErdMFOEw6C4, youtu.be/cukIPGe7P0g, youtu.be/o_J-Cm4eP90 e youtu.be/N6A7TUbUI_c.
Figura 2 – Estudantes lendo os QR Codes sobre Meio Ambiente.
Fonte: Acervo pessoal.
Para realizar atividades como a proposta neste trabalho, o professor precisa conhecer e saber utilizar as TICs. Portanto, para MORAN (2012), o professor precisa aprender a elaborar diversos planejamentos didáticos para atender aos diferentes momentos de aprendizagem, tendo o cuidado de deixar os estudantes que estão familiarizados com as TICs irem além; lançando desafios e ao mesmo tempo oportunizando-as àqueles que não têm acesso ao uso básico das ferramentas. O autor descreve essa ideia no trecho a seguir:
Estamos caminhando para um conjunto de situações de educação plenamente audiovisuais, com possibilidade de forte interação, integrando o que de melhor conhecemos da televisão (...) com o melhor da internet (...) Tudo isso exige uma pedagogia muito mais flexível, integradora e experimental. (MORAN 2012, p. 36)

Portanto, ao elaborar as atividades sobre meio ambiente e TICs a professora realizou estudos teóricos, aprendeu a utilizar os recursos tecnológicos através da prática e auxiliou os estudantes na elaboração e edição dos vídeos. Os referenciais teóricos subsidiaram as ações aqui apresentadas e a partir delas surgiram reflexões sobre a prática docente.
Entendendo-se que a crescente evolução e desenvolvimento das TICs exige que os educadores busquem atualização e aprendam a utilizá-las, a fim de poder fazer uso delas em suas aulas, descobrindo quais ferramentas didáticas auxiliam sua prática e despertam o interesse e o entusiasmo dos estudantes.
Nessa perspectiva se faz importante o papel do professor como mediador e orientador, auxiliando os estudantes na busca pelo conhecimento de forma eficaz e não apenas de informação isolada e descontextualizada, muitas vezes distorcida e diferente da realidade.
Consequentemente, a escola e as instituições de ensino precisam oferecer espaços para que educadores e estudantes tenham acesso as TICs e aprendam a utilizá-las em sala de aula.
As ações educativas, dentre elas a construção de materiais didáticos, baseadas nos princípios da educação ambiental possibilitam à formação de atitudes ecológicas que contribuem para a formação integral dos estudantes. Assim sendo, o material didático elaborado apresenta o roteiro de atividades desenvolvido – disponível através de um QR Code, e as fichas com os QR Codes dos vídeos produzidos pelos estudantes durante o desenvolvimento das ações didáticas.
Reflexões sobre Meio Ambiente e TICs
A relação entre ser humano e meio ambiente evidenciam “as contradições entre usufruir os bens do ambiente natural e mantê-los intocados ou a possibilidade de usá-los sem destruí-los para a própria sobrevivência humana reduzem a complexidade do problema ambiental” (SILVA, 2007, p. 155 apud MARANDINO, SELLES e FERREIRA, 2009, p. 179).
Portanto, para Lindner (2012) a educação ambiental precisa ser entendida como uma nova filosofia de vida e não apenas como “uma educação apenas ecológica que busca, no conhecimento das relações entre os seres vivos e seu ambiente natural, explicações parciais para fatos observáveis” (p. 15). Assim, a educação ambiental torna as pessoas esclarecidas, conscientes e capazes de opinar sobre o meio ambiente e as ações que podem alterá-lo influenciando suas vidas.
De acordo com essa visão, é tarefa da escola trabalhar a educação ambiental em seu currículo possibilitando aos estudantes “apropriar-se de seu ambiente, internalizando suas ações e formando com ele um sistema orgânico e equilibrado” (LINDNER, 2012, p. 17).
Carvalho (2004) pressupõe o desenvolvimento de capacidades e sensibilidades para identificar e compreender os problemas ambientais através da mobilização e do comprometimento dos estudantes, utilizando-se da competência de tomar decisões voltadas à melhoria da qualidade de vida e implicando uma responsabilidade ética, social e ambiental.
De tal modo, como a temática ambiental, o uso das TICs também está presente no cotidiano dos estudantes e incide fortemente na escola, aumentando o desafio de educar. Para Marandino, Selles e Ferreira (2009) esse desafio estimula o docente a promover ações que proporcionem aos estudantes “um desenvolvimento humano, cultural, científico e tecnológico, de modo que adquiram condições para enfrentar as exigências do mundo contemporâneo” (p. 10).
Para as autoras, as TICs
penetram na escola de forma pacífica ou às vezes promovendo rupturas, exigindo novos espaços, nova formação dos profissionais, novas relações entre pessoas e destas com o conhecimento, ou seja, provocando mudanças em diversos elementos da cultura escolar. Essas novas tecnologias educativas, geradas em outros contextos, carregam também outras culturas, uma forma particular de produção e de apropriação de saberes. (MARANDINO, SELLES e FERREIRA, 2009, p. 172)

Segundo Chaves (1999, p. 1) a tecnologia é descrita como “qualquer artefato, método ou técnica criado pelo homem para tornar seu trabalho mais leve, sua locomoção e sua comunicação mais fáceis, ou simplesmente sua vida mais satisfatória, agradável e divertida”. Destacando que são utilizadas na educação apenas “as tecnologias que amplificam os poderes sensoriais do homem”, que “estendem a sua capacidade de se comunicar com outras pessoas” e que “aumentam os seus poderes mentais: sua capacidade de adquirir, organizar, armazenar, analisar, relacionar, integrar, aplicar e transmitir informação” (CHAVES, 1999, p. 1).
Entende-se que a palavra tecnologia vem acompanhada de vários conceitos e se acredita que é possível relacioná-la com a prática docente, desde que seus objetivos estejam claramente especificados e que se usem as TICs em benefício da aprendizagem.
Segundo Gabriel (2013, p.110), as TICs atuais provocam uma vertiginosa necessidade de superação constante de saber, de modo que devemos buscar novos caminhos de abertura e fluência do conhecimento para encontrarmos pontos de equilíbrio dinâmicos, tanto para alunos como para professores. Visto que as TICs estão cada vez mais presentes na escola e são um recurso viável e muito interessante para ser utilizado na sala de aula. O autor elucida que:
Com as tecnologias atuais, a escola pode transformar-se em conjunto de espaços ricos de aprendizagens significativas, presenciais e digitais, que motivem os alunos a aprender ativamente, a pesquisar o tempo todo, a serem proativos, a saber tomar iniciativas e interagir. (MORAN, 2013, p. 31)

Portanto, evidencia-se a partir dos vídeos produzidos os conhecimentos adquiridos pelos estudantes e relacionados aos conceitos de educação ambiental. Uma reflexão sobre a prática docente e o uso das TICs nas atividades desenvolvidas também foram corroboradas, visto que:
Os avanços tecnológicos estão sendo utilizados praticamente por todos os ramos do conhecimento. As descobertas são extremamente rápidas e estão a nossa disposição com uma velocidade nunca antes imaginada. (...) Em contrapartida, a realidade mundial faz com que nossos alunos estejam cada vez mais informados, atualizados e participantes deste mundo globalizado. (KALINKE, 1999, p. 15)

Para conseguir acompanhar esses avanços tão significativos é necessário se pensar em técnicas, formas e maneiras criativas de se utilizar as TICs em nosso benefício na prática educativa.
Gabriel (2013, p. 7), destaca que as TICs “não afetam apenas os modos de vermos as coisas, mas afetam principalmente nossos modelos e paradigmas” e, consequentemente, “as expectativas e os relacionamentos educacionais sofrem as mesmas modificações significativas e perceptíveis que têm ocorrido em nossas vidas cotidianas”.
Para Lévy (2010), as TICs se adaptam a uma pedagogia ativa. Deste modo, o autor destaca o papel fundamental do envolvimento do professor e dos alunos no processo de aprendizagem ao dizer que “quanto mais ativamente uma pessoa participar da aquisição de um conhecimento, mas ela irá integrar e reter aquilo que aprender” (LÉVY, 2010, p. 40).
Por conseguinte, há também inúmeras possibilidades de interação entre o mundo virtual e o mundo físico, estando a escola no meio dessa disputa. Assim, as TICs, aliadas à educação, podem promover mudança de atitude e permitir aos estudantes aprendizados intrínsecos, considerando que há uma mudança de paradigma educacional. Assim sendo, é preciso repensar a educação, pois as pessoas e os saberes são diversos, não existindo uma única forma de ensinar e de aprender. Além disso, diariamente, descobrimos novos conhecimentos, tendo as TICs papel fundamental nesse processo.
Considerações Finais
Acredita-se que essas atividades sobre meio ambiente usando TICs, desenvolvidas nas aulas de Ciências, são necessárias e que todos os envolvidos no processo educativo devem realizar práticas pedagógicas que caminhem para a consciência ambiental e para um ensino de qualidade. Ações como a aqui apresentadas podem ser utilizadas para desenvolver competências relacionadas a educação ambiental, possibilitando que os estudantes pesquisem e expressem suas percepções sobre o ambiente que os cerca.
Em relação aos dados obtidos nas atividades desenvolvidas, existem evidências que indicam o interesse e participação dos estudantes, pois eles conseguiram realizar de forma satisfatória as atividades propostas e relataram à professora o interesse em repetir esse tipo de prática. Segundo eles por meio da produção dos vídeos é possível entender melhor e aprendem mais, como, por exemplo, o comentário a seguir: “aprendemos um pouco mais sobre tudo que acontece no nosso dia a dia e que às vezes nem ligamos ou nos damos conta da importância do ambiente que nos cerca”. Outro comentário interessante é descrito a seguir: “ao escolher um assunto e pesquisar para fazer o vídeo estamos conhecendo mais sobre o meio ambiente e descobrindo muita coisa interessante”.
Assim, a construção dos vídeos possibilitou o desenvolvimento de aprendizagens a partir da internalização de conceitos pesquisados e da capacidade de síntese e de criação de argumentos e de uma atividade (criação de vídeo) que demandava o uso das TICs. Assim, o movimento do intersubjetivo ao intrasubjetivo (de internalização do conceito), a mediação da professora, o estudo de textos e a produção dos vídeos acompanhadas pela pesquisa indicam contribuições ao desenvolvimento cognitivo dos sujeitos, visto que as inter-relações envolvidas na apropriação do conceito de meio ambiente permitem novas interpretações ao contexto social em que sujeitos estão inseridos.
Eles ainda contribuíram com suas habilidades e criatividade para enriquecer o trabalho; por exemplo, os estudantes acrescentaram trilha sonora e outros recursos tecnológico na criação dos vídeos, tornando interessante o resultado de suas produções sobre o meio ambiente.
Outro dado relevante foi a escolha dos temas dos vídeos e o envolvimento dos estudantes com a tarefa a ser realizada. Os alunos buscaram temas que faziam referências ao meio ambiente e, o mais importante, que correlacionassem esses assuntos com a comunidade onde vivem (município).
Logo, este trabalho gerou um legado em que os alunos poderão fazer uso em diversos momentos de suas vidas, tanto no ambiente escolar como em sua comunidade, ampliando assim sua relação e conhecimento sobre essa temática.
A presença das tecnologias na vida dos estudantes, invade todos os espaços, tanto em casa como na escola; promovendo diversas transformações, principalmente na linguagem e na comunicação, afetando “os modos de expressão e comunicação em todos os âmbitos, inclusive em campos tão vitais quanto a construção de si mesmo, as relações com os outros e a formulação do mundo” (SIBILIA, 2012, p.63). Nesse sentido, a escola se vê diante da necessidade de “chamar” os estudantes para o processo de ensino, procurando envolvê-los em assuntos que atraiam seu interesse e que promovam aprendizagens.
Portanto, ao se trabalhar a temática da educação ambiental através do uso das TICs, considera-se se tratar de um assunto com grande amplitude e que faz parte da vida dos estudantes. Assim, ao se fazer o uso da ferramenta QR Codes observou-se maior facilidade de problematizar o saber ambiental de cada indivíduo, apresentando no suporte digital uma perspectiva em que os estudantes pudessem apropriar-se das TICs e utilizá-las para construção de suas “atitudes ecológicas”.
A partir da discussão sobre o tema e da construção dos vídeos os estudantes perceberam a importância da Consciência Ambiental e da Preservação do Meio Ambiente. Assim sendo, constatou-se que os eventos do cotidiano da sala de aula serviram para evidenciar o envolvimento com as atividades desenvolvidas, uma reflexão sobre a temática meio ambiente e o uso das TICs – especialmente vídeos e QR Codes – na produção do conhecimento escolar e da aprendizagem dos estudantes.

Referências:
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. – Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/meioambiente.pdf – acesso em 11. ago. 2017.

CARVALHO, Isabel Cristina M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2004.

CHAVES, Eduardo O C. A tecnologia e a educação. Rio de Janeiro, 1999. Disponível em:  http://www.educacao.pro.br – acesso em 25. nov. 2017.

GABRIEL, Martha. Educar: a (r)evolução digital na educação, São Paulo: Saraiva, 2013.

KALINKE, Marco Aurélio. Para não ser um professor do século passado. Curitiba: Gráfica Expoente, 1999.

LEFF, Enrique. Saber ambiental. Petrópolis: Vozes, 2002.

LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Tradução Carlos Irineu da Costa. 2 ed. Rio de Janeiro: Ed. 34, 2010.

LINDNER, Edson Luiz. Refletindo sobre o ambiente. in LISBOA, Cassiano Pamplona et al. Org. Educação ambiental: da teoria à prática. Porto Alegre: Mediação, 2012.

MARANDINO, Martha; SELLES, Sandra Escovedo e FERREIRA, Marcia Serra. Ensino de biologia: histórias e práticas em diferentes espaços educativos. São Paulo: Cortez, 2009.

MORAN, José Manoel. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. 5 ed. Campinas, SP: Papirus, 2012.

––––––. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 21 ed. Campinas, SP: Papirus, 2013.

SIBILIA, Paula. Redes ou paredes: a escola em tempos de dispersão. Rio de Janeiro, Contraponto, 2012.

SILVA, José Luiz da, et.al. A utilização de vídeos didáticos nas aulas de química. Química Nova na escola, vol. 34, n. 4, p. 189-200, 2012. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/dezembro2012/quimica_artigos/videos_didaticos_aulas_quimica.pdf – acesso em: 24. set. 2017.


Carla Adelina Inácio de Oliveira[1] – UFPEL/SEDUC-RS


[1] Mestre em Ensino de Ciências e Matemática (PPGECM/UFPEL) e professora de Ciências da rede pública estadual do Rio Grande do Sul (SEDUC/RS) – carlaami.quimica@gmail.com.

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Material Didático apresentado no  VII ENEBIO (Encontro Nacional de Ensino de Biologia), realizado de 03 a 06 de setembro de 2018, na Universidade Federal do Pará – Campus Belém. Site do evento: http://eventos.idvn.com.br/enebio2018/home

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Química Verde

O uso de energia renovável é um princípio da Química Verde

       A Química Verde é um ramo da Química que foi definido pela primeira vez em 1991, por John Warner e Paul Anastas, membros da agência ambiental norte-americana Environmental Protection Agency (EPA). Isso ocorreu após a criação de uma lei nacional de prevenção à poluição.

    Os dois definiram a Química Verde como sendo o “desenvolvimento de produtos químicos e processos que buscam a redução ou eliminação do uso e da geração de substâncias perigosas”. Esse conceito foi aceito pela IUPAC em 1993.

   Como observado na definição, a palavra-chave da Química Verde é redução, principalmente no que diz respeito à poluição ambiental. 

      Para tentar resolver a problemática gerada pelas ações do homem ao longo do tempo na natureza, a Química Verde busca incessantemente o desenvolvimento de novas tecnologias e reações químicas que não gerem poluição a do meio ambiente. Para isso, existem algumas ações que são obrigatórias dentro da Química verde:

  • Utilizar reagentes alternativos e renováveis 
  • Utilizar reagentes que diminuam a perda de materiais 
  • Substituição dos solventes tóxicos 
  • Aprimorar processos naturais de síntese 
  • Desenvolver novas substâncias que não poluam o meio ambiente    
  • Desenvolvimento de condições para que as reações químicas tenham maior rendimento e produzam menos impurezas.  
  • Minimizar o consumo de energia

         Que outras ações podem ser feitas em prol de uma sociedade sustentável? 

     Em uma sociedade sustentável, a Química Verde, também conhecida como Química Limpa, visa desenvolver metodologias e/ou processos que utilizem e produzam a menor quantidade de impactos ao meio ambiente, buscando o restabelecimento da qualidade do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável da sociedade. Seus objetivos são: redução de consumo de energia, redução dos dejetos, redução da toxicidade, redução do uso de fontes não renováveis e redução dos riscos de poluição ao meio ambiente. Através das pesquisas pode-se descobrir matérias-primas renováveis, produtos ambientalmente aceitáveis, formas eficientes de produção de energia, etc. 

Doze princípios conduzem a Química Verde: 
1°) Prevenção; 
2°) Economia ou eficiência atômica; 
3°) Redução de toxicidade; 
4°) Desenvolvimento de produtos seguros e eficientes; 
5°) Tornar seguros solventes e outros auxiliares de reação; 
6°) Otimização do uso de energia; 
7°) Uso de matérias-primas de fontes renováveis; 
8°) Evitar derivações desnecessárias; 
9°) Catálise; 
10°) Desenvolvimento de produtos degradáveis após o término de vida útil; 
11°) Monitoramento/controle de processos em tempo real; 
12°) Desenvolvimento de processos seguros. 

      O grande desafio a ser vencido consiste em ações que visem o desenvolvimento sustentável da sociedade. 




Referências: 
https://manualdaquimica.uol.com.br/quimica-ambiental/quimica-verde.htm 
http://www.ufjf.br/baccan/files/2012/11/Seminario-Quimica-Verde-2S2013.pdf 
https://www.manualdaquimica.com/quimica-ambiental/quimica-verde.htm

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Você sabe interpretar um exame de sangue?



Você sabe interpretar um exame de sangue?

Carla Adelina I. de Oliveira
Professora da rede estadual do Rio Grande do Sul
Any Bernstein
Professora doutora da Fundação Cecierj
A sociedade tem se manifestado a favor de uma reforma do Ensino Médio no sentido de um ensino mais dinâmico e participativo; isso faz com os docentes repensem todo o processo de ensino-aprendizagem para que os conteúdos trabalhados ganhem significado no meio sociocultural dos estudantes. Os documentos oficiais norteadores do ensino de Ciências (PCNEM, DCN) e a própria BNCC (Base Nacional Curricular Comum), em fase de aprovação pelo Congresso, orientam o novo foco do ensino de Ciências em Nível Médio:
um compromisso com o desenvolvimento do letramento científico, que envolve a capacidade de compreender e interpretar o mundo (natural, social e tecnológico), mas também de transformá-lo com base nos aportes teóricos e processuais da ciência (Brasil, 2017, p. 273).
O texto da BNCC recomenda também uma educação ampla com base em conhecimentos contextualizados, permitindo aos estudantes “um novo olhar sobre o mundo que os cerca” e a possibilidade de fazer “escolhas e intervenções conscientes e pautadas nos princípios da sustentabilidade e do bem comum”. O planejamento de atividades que visam o letramento científico requer mudanças na concepção do papel tradicional do professor que ultrapassa o repasse de conteúdos. As teorias de aprendizagem descritas por Vygotsky (1896-1934), juntamente com outros psicólogos e pedagogos que integram a abordagem histórico-cultural, recomendam que o desenvolvimento cognitivo esteja apoiado em conhecimentos prévios adquiridos ao longo da vida, levando em consideração as especificidades de contextos culturais. Vygotsky também estimula a contextualização na apresentação de conteúdos: “quando o currículo fornece o material necessário, o desenvolvimento dos conceitos científicos ultrapassa o desenvolvimento dos conceitos espontâneos” (2008, p. 132). Há que se salientar que a influência histórico-cultural no desenvolvimento dos modos de pensar e agir dos indivíduos foi estudada numa época em que não existiam as tecnologias digitais. Atualmente o professor dispõe de vários recursos que estimulam o desenvolvimento da mente. O desafio passa a ser oferecer atividades colaborativas que sejam do interesse de seus alunos, apoiadas na bagagem cultural local. O professor está diante de uma nova situação, em que o processo de aprendizagem ocorre com diálogos bidirecionais ou multidirecionais entre ele e seus alunos; ele tem o papel de mediador da dinâmica de ensino, fazendo as correções de percurso em cada etapa do trabalho. Mesmo considerando a multiplicidade de novos instrumentos didáticos e mecanismos de busca de informação, Moran (2013) coloca um fator indispensável para que o ensino resulte em aprendizagens significativas: a motivação para aprender. Essa motivação vem do desafio de pensar em suas próprias respostas e conceitos. Se o professor der “tudo pronto”, o estudante estará apenas “reproduzindo” e não construindo o próprio conhecimento. Portanto, o ensino de Ciências que visa o letramento científico exige uma abordagem motivadora, interativa e participativa. Isso é facilitado quando o tema selecionado tem aplicações nos vários aspectos da vida cotidiana, como saúde e higiene pessoal, nutrição, preservação de alimentos, reciclagem de produtos etc. A contextualização de temas que fazem parte da vida dos estudantes permite que eles se apropriem de conceitos e teorias relacionados diretamente aos seus interesses e que podem ser aplicados ou reproduzidos em situações reais do cotidiano.

Alfabetização e o letramento na perspectiva da educação científica

No curso de atualização Letramento Interdisciplinar em Ciências, oferecido em 2017/2 pela Fundação Cecierj, professores de diferentes áreas das Ciências (Biologia, Química, Física e Geociências) tiveram a oportunidade de explorar o uso social do conhecimento científico vivenciando uma série de práticas docentes simples e eficazes. Foram selecionados 75 cursistas que tinham curiosidade de saber como otimizar os processos de alfabetização e letramento científicos. Este foi o primeiro tópico abordado: a alfabetização e o letramento na perspectiva da educação científica. A primeira prática docente teve foco na linguagem científica, que precisa ser decodificada pelo cidadão de escolaridade média de ensino. A leitura de pequenas informações contidas em materiais e produtos corriqueiros e sua correta interpretação foram utilizadas como exercício da alfabetização científica, com o objetivo de identificar propagandas enganosas que induzem tomadas de decisão precipitadas, baseadas no preço, na beleza da embalagem ou do rótulo e que não priorizam cuidados, protocolos de segurança ou a sustentabilidade ambiental. Nessa prática, os cursistas, de acordo com as respectivas áreas de atuação e interesse, foram orientados a buscar informações contidas em uma lista: bulas de remédio, contas de serviços prestados à população, rótulos de alimentos, produtos de limpeza ou exames bioquímicos em fluidos ou excretas humanos. Apesar de o trabalho ser individual, todos os cursistas tinham acesso aos relatórios dos colegas, o que permitia ver o olhar do colega que atua em outra área. A mediação pedagógica ao longo da atividade tinha como objetivo o letramento científico do professor de Ciências; todos os relatórios foram analisados criticamente com ênfase em dados controversos para que a prática permitisse sanar dúvidas e preparasse o cursista para trabalhar esses assuntos em sala de aula.

Letramento em destaque: por que os médicos solicitam exames de sangue?

Entre os vários trabalhos interessantes que abrangiam as diferentes áreas de Ciências da Natureza, mereceu destaque o trabalho realizado pela professora Carla, de Biologia, desenvolvido e aplicado uma escola pública estadual no município de Dom Pedrito, Rio Grande do Sul. O objetivo cognitivo do trabalho foi desvendar o “mistério” de como a medicina diagnóstica elucida suspeitas clínicas utilizando dados que aparecem em um exame laboratorial de sangue – o hemograma completo. A atividade proposta foi apoiada na pergunta motivadora: por que os médicos solicitam exames de sangue? A condução da atividade em turmas de 1º ano do Ensino Médio teve como objetivo geral a alfabetização científica do estudante em relação à interpretação do hemograma de um indivíduo saudável, ressalvando as prerrogativas dos médicos na interpretação de um hemograma, no levantamento de hipóteses diagnósticas ou eliminação de suspeitas de doenças que são fruto de correlações complexas e conhecimentos das especialidades médicas, alem da necessidade de exames complementares. A atividade foi organizada em quatro etapas, com apresentação e aplicação, de forma escalonada, de conceitos que fizessem sentido para os estudantes. As etapas – sensibilização, alfabetização científica, letramento científico e integração dos conhecimentos – estavam associadas a tarefas individuais ou em grupo. O objetivo pedagógico foi fazer um ensino mais dinâmico, que despertasse o interesse e envolvesse os estudantes na análise de resultado de exames de sangue (hemograma). A estratégia utilizada foi despertar a curiosidade dos estudantes para a leitura e interpretação do hemograma de um indivíduo saudável visando utilizar esse conhecimento na leitura e interpretação do resultado de qualquer hemograma.

Alfabetização científica para leitura de hemogramas

No currículo escolar de Ciências há a apresentação do tecido sanguíneo, trabalhando conceitos de “significatividade” e “funcionalidade”, visando alfabetizar o cidadão nos objetivos primários de compreensão da composição do sangue. Quando procedemos à leitura do resultado do hemograma encontramos diversos nomes "estranhos" dos elementos figurados que compõem o tecido sanguíneo: eritrócitos (ou hemácias ou glóbulos vermelhos), leucócitos (ou glóbulos brancos) e plaquetas (ou trombócitos). A caracterização dos elementos figurados é chamada de eritrograma, leucograma e plaquetograma. No eritrograma são contados os eritrócitos, medidas as concentrações de hemoglobina e hematócrito, determinados os índices hematimétricos (volume celular médio, concentração de hemoglobina corpuscular média, hemoglobina corpuscular média), além da determinação do RDW, que indica a variação do tamanho dos eritrócitos. No leucograma, os leucócitos são contados em termos gerais, sendo classificados em uma contagem relativa em diferentes populações (neutrófilos, basófilos, eosinófilos, linfócitos, monócitos) segundo suas características citológicas. No plaquetograma, as plaquetas são computadas; seu tamanho médio e as variações de volume são determinados (MPV e PDW). Todas essas análises são seguidas por microscopia após coloração para avaliação das características e/ou alterações morfológicas de cada série. Esse conjunto de dados permite levantar hipóteses diagnósticas que podem ser cruzadas com resultados de exames de imagem ou outros dados e sintomas clínicos que permitem que os médicos estabeleçam o diagnóstico final. O hemograma fornece informações específicas sobre cada tipo celular com valores de referência que caracterizam oscilações de concentração correlacionadas ao equilíbrio dinâmico de um estado saudável, expressos por faixa etária e gênero. Logo, é um exame que analisa as variações quantitativas e morfológicas dos elementos figurados do sangue. Os médicos pedem esse exame para diagnosticar ou controlar a evolução de doenças como anemia, infecções de diversos tipos e alterações metabólicas ligadas à digestão de carboidratos, lipídios e proteínas.

Etapas metodológicas

1ª etapa: Sensibilização

Muito antes da medicina moderna, o sangue já era visto como a força vital. Era dito popular que a raiva faz o sangue ferver e o medo faz o sangue gelar. Apesar de hoje em dia não nos referirmos ao sangue dessa forma, sabemos que ele é bombeado pelo coração e transportado por todo o nosso corpo carreando substâncias importantes (nutrientes, íons, hormônios e muitas outras), entregando nutrientes para os tecidos e excretas para os órgãos de eliminação. A sensibilização é a etapa de pesquisa orientada ao significado de alterações em cada um dos parâmetros medidos nesse exame e mostra a importância dessas medidas para os diagnósticos médicos. Pode ser realizada tanto no laboratório de informática como com a utilização dos celulares dos estudantes.

Tarefa sensibilizadora:

Pedir que os alunos preencham as colunas (o que significa e o que indica) da tabela, cujo gabarito é este:

Pedir aos estudantes que busquem resultados de hemogramas utilizando referências pessoais, a fim de que sejam utilizados em uma aula futura.

2ª etapa: Alfabetização científica

A etapa de alfabetização envolveu a sistematização das informações dentro de faixas de referência, estabelecidas para a população em geral. O hemograma de um indivíduo saudável foi apresentado como exemplo.
Descrição: Uma imagem contendo texto, captura de tela Descrição gerada com alta confiançaFigura 1: Hemograma de pessoa saudável
Os estudantes, em dupla, devem responder à pergunta “O que são valores de referência?”. Essa etapa permite observar as diferenças entre os indivíduos e que os seres humanos são constituídos pelos mesmos elementos figurados.

3ª Etapa: Contextualização, letramento e aplicação dos conceitos aprendidos

Paciente 1: É uma mulher que está sempre cansada, com falta de ar e incapacidade para realizar exercícios físicos. Seu médico chegou à conclusão de que será necessária a prescrição de um remédio para reposição de ferro, já que seu hemograma mostrou alteração em um dos tipos de células sanguíneas. Paciente 2:É um homem que chegou ao hospital com forte ardência ao urinar e com presença de sangue na urina. Ao analisar seu hemograma, o médico de plantão chegou à conclusão de que será necessário prescrever um antibiótico.Paciente 3: É uma mulher que precisa se submeter a uma cirurgia para extração de um nódulo na glândula tireoide, mas o seu médico, ao observar seu hemograma, chegou a conclusão de que a cirurgia não poderá ser realizada, pois será necessário o restabelecimento dos valores normais de um dos tipos de células sanguíneas. Tarefa de letramento científico: A atividade de letramento científico foi concebida com exemplos de três casos de pacientes portadores de alterações sanguíneas que se tornam evidentes pela interpretação dos resultados de exames de sangue. O desafio apresentado aos alunos foi correlacionar os sintomas dos três pacientes com os resultados dos exames. Foi apresentada uma tabela que relaciona resultados fictícios do hemograma obtidos para cada paciente e solicitada a interpretação dos dados.
ParâmetroPaciente 1Paciente 2Paciente 3Valores de referência
Hemácias ou eritrócitos ou glóbulos vermelhos3,0 milhões/mm34,8 milhões/mm34,2 milhões/mm3Mulheres: 3,9 a 5,0 milhões/mm3 Homens: 4,3 a 5,7 milhões/mm3
Leucócitos ou glóbulos brancos8.000/mm312.500/mm36.500/mm34.000 a 11.000/mm3
Plaquetas220.000/mm3385.000/mm390.000/mm3140.000 a 400.000/mm3

4ª etapa: Análise e integração dos resultados

Cada estudante analisa seu próprio exame e identifica alterações de valores de cada série; faz apontamentos sobre os itens identificados e avalia o desvio das condições padronizadas. Tarefa integradora: Os estudantes socializam suas respostas, buscando relacionar os conceitos científicos aprendidos.

Análise do processo ensino-aprendizagem

O trabalho com análise de resultado de exames de sangue (hemograma) nas aulas de Biologia proporciona uma experiência de ensino com grande potencial para o desenvolvimento de competências cognitivas, visto que tem dinâmica participativa diferente da adotada em aulas expositivas mais centradas no professor; demonstra uma forma de promover um ensino de Ciências que vai além do ensino de conteúdos específicos. É uma prática pedagógica que trabalha a alfabetização científica fazendo uso de conceitos científicos de forma interdisciplinar, utiliza um tema atrativo e relacionado ao cotidiano dos estudantes e desenvolve o pensamento crítico em relação à saúde pessoal. Ao longo das quatro etapas, foram observadas tendências indicativas de que a atividade realmente cumpriu seu objetivo pedagógico, houve apropriação de conceitos, mudança de interesse, motivação e aprendizagem dos estudantes.

Conclusões

Ficou evidente que a atividade induziu à maior participação dos estudantes nas aulas de Biologia, o que é um fator positivo para os processos de ensino-aprendizagem. Houve inclusão de estudantes desinteressados: aqueles que, inicialmente, não demonstravam atenção passaram a participar das atividades, desenvolvendo uma postura diferente da adotada em aulas em que a professora é o centro do processo. Percebeu-se também melhor relação ou interação entre professor e aluno e entre os próprios estudantes. Esse clima favoreceu as atividades didáticas; os alunos mostraram-se mais confiantes para expor suas ideias e dúvidas e abriram-se novos espaços de aprendizagens mútuas. Ficou notório que a atividade possibilita a participação dos estudantes na construção do próprio conhecimento e que, quando o assunto é de seu interesse, eles se mostram receptivos, prestam atenção nas orientações da professora e procuram realizar as tarefas propostas. Percebeu-se que a interação e a participação deles em sala de aula estavam diretamente ligadas ao significado daquilo que estava sendo estudado em suas vidas, demonstrando que a motivação é importante no processo de aprendizagem dos estudantes (Moran, 2013). Observaram-se, nas escritas e nos diálogos dos estudantes, movimentos típicos do processo de elaboração conceitual, com atribuição de importância da relação da atividade com o cotidiano. A interpretação das informações disponíveis em exames de sangue de pacientes portadores de disfunções abrange aspectos mais amplos, que utilizam habilidades cognitivas que permitem aplicações sociais do conhecimento científico, atributos estes relacionados ao letramento científico. O letramento aumenta a percepção sobre implicações de transfusões sanguíneas em casos de acidentes, induz à participação cidadã em campanhas de doação de sangue e evita que o cidadão ignore uma situação de doença que exige cuidados emergenciais. Conclui-se que os resultados em relação aos processos de ensino-aprendizagem, a partir de temas atuais e de interesse dos estudantes, articulados às suas vivências na escola e na sociedade, possibilitaram a abordagem dos conceitos científicos de forma contextualizada, integrando os conteúdos Biologia ao cotidiano e favorecendo a aprendizagem.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC/SEF, 2017. CARVALHO, Ana Maria Pessoa et al. Ciências no Ensino Fundamental: o conhecimento físico. São Paulo: Scipione, 2009. FERREIRA, Graça Regina; SILVA, Débora; PEREIRA, Sandra. Inclusão de práticas educativas como inserção tecnológica no ensino de ciências da natureza. Revista daAssociação Brasileira de Educação a Distância – ABED, p. 1-10 , 2016. LINHARES, Sérgio; GEWANDSZNAJDER, Fernando; PACCA, Helena. Biologia Hoje. 3ª ed. São Paulo: Ática, 2016. Vol. 1, p. 226–234. MARANDINO, Martha; SELLES, Sandra Escovedo; FERREIRA, Marcia Serra. Ensino de Biologia: histórias e práticas em diferentes espaços educativos. São Paulo: Cortez, 2009. MORAN, José M. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 21ª ed. Campinas: Papirus, 2013. NAOUM, Paulo Cesar; NAOUM, Flávio Augusto. Interpretação laboratorial do hemograma. s/d. Disponível em: http://www.ciencianews.com.br/arquivos/ACET/IMAGENS/Artigos_cientificos/Interphemo.pdf. Acesso em: 13 out. 2017. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. Trad. José Cipolla Netto. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. ______. Pensamento e linguagem. Trad. Jefferson Luiz Camargo. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008. ZABALA, Antoni. Enfoque globalizador e pensamento complexo: uma proposta para o currículo escolar. Porto Alegre: Artmed, 2002.